Nada melhor para abrir o mês de outubro, do que essa postagem dedicada a um "novo" amigo que fiz nestes ultimos dias. Recebi esse email a poucos instantes, e realmente o achei muito legal!!! Esse escrito pelo filho do Renato Bueno, o César. Segue abaixo um relato onde muitos de nós irão se identificar!!!
Ligo o velho Fordão. Depois de duas manhas ele ruge dócil. O motor entra em funcionamento e lucidamente me dou conta que estou a bordo de um Ford Custom 1951 modificado, um hot rod. Autêntico, por sinal. Câmbio na coluna, três marchas a frente e uma ré. Ligo o som e aparece na tela do DVD um filminho achado no YouTube sobre outros hots. Nem ligo, engato a primeira e o pequeno Goodzila que mantenho na minha garagem começa a se deslocar. Já na saída, minha vizinha acostumada a cor preto fosco do carango, ainda estampa a mesma cara incrédula da primeira vez que o viu. Aceno. Sorrisinho. Deixo-a rumo a minha aventura. Na primeira esquina, testo os freios. Parou. Alívio. De pé, na calçada, um homem estático, de sacolas de super-mercado, está petrificado pela visão. Inimaginável o que pensa ele olhando o velho carrão com visual criminoso. Forço a embreagem dura, engato a primeira, o motor V8 solta sua potência e sigo meu curso. Sol, tarde linda e um hot rod. A vida sabe ser bela quando quer.
Vamos deslizando pela avenida e sob olhares incrédulos posso ler labialmente: “Um Hot Wheels gigante, mãe! Olha o carro do Stallone!”
Próxima esquina. Sinal. Stop. Fico ouvindo o velho motor 8BA, projeto e arquitetura do próprio Henry Ford, ecoando sons do passado. História pura. Estou a bordo de um clássico. Meus devaneios são de abrupto interrompidos por um motoqueiro de sorriso aberto: “Massa, cara. Show mesmo. Ainda vou ter um…" Arranca rápido e fico pensando no que ele disse. Vai ser um longo caminho, mano!!! Sigo meu destino. Trocando marchas, trocando reminiscências. O ronco viril e o cheiro suave de gasolina vão suprindo minhas lembranças. Adiante um aceno. Um senhor de oitenta anos. Paro o carro no meio fio. Chega na janela lentamente. Aciono o vidro elétrico. Dá tempo de ouvir a frase: “Muito carreguei batata num destes… Tá um pouco diferente, mas vi meu passado, obrigado.” Sou atacado por uma emoção arcaica para um old school: ternura.
Adiante, man. Contorno mais uma esquina e já vislumbro ao longe meu destino. Construção antiga, sólida, grades. Meio quarteirão. Lá muita gente sofre e aprende. Aproximando. Diminuo. Já dá para ouvir a trilha musical do DVD: ZZ Top. Há uma vaga bem em frente. Estaciono o monstro. Ops, homem da lei a estibordo. Leva a mão ao nariz. Já olho de canto de olho o porta-luvas. A resposta está ali. Ele sorri, acena de polegar um positivo e meneia a cabeça para cima e para baixo em tom de aprovação. Alívio outra vez. Desligo a máquina. Dá pra ouvir pequenos estalos do motor reclamando. Abro lentamente a porta e salto do macio banco de couro para a vida real. Contorno o carro. Cromados brilhando, vidros escuros, pneus banda branca. Visual fora da lei.
Fico estático em frente à velha, mas bem cuidada, construção. Da portaria um aceno discreto. Disciplina. Abre-se o grande portão de ferro e sai quase correndo meu carona. Arrastando sua mochila de rodinhas da Hot Whelles, vem meu filho de seis anos: “Manero, pai, veio no Fordão!” Coloco-o na cadeirinha elevada no banco de trás. Cinto colocado. Ainda posso vê-lo, se exibido, acenando para os coleguinhas boquiabertos. Ligo o motorzão. Olho o relógio: ainda dá tempo pra ver Chaves na TV com meu filho. Sou um homem comum. Pai. Marido. Sem tatuagem. Sem brinco. Mas sou cool. Tenho um hot rod!!!
E que hot rod!!!
ResponderExcluirBelo texto!
ResponderExcluirLindo carro!
bacana, minhas filhas estão com 1 ano e meio e espero passear com elas nos meus V8s em breve. ótimo texto. abração Gian
ResponderExcluirV8nFUN.blogspot.com
Cajú, obrigado por publicar o texto!!!
ResponderExcluirUm grande abraço meu e do meu pai.
César